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Projeto em escola indígena de RO concorre a prêmio em Brasília

Professores da Escola Indígena Sertanista José do Carmo de Cacoal (RO), município distante cerca de 480 quilômetros de Porto Velho, estão concorrendo ao Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos, promovido pelo Ministério da Educação. O projeto “Construção e Normatização da Língua Paiter Suruí” concorreu com mais 200 trabalhos e agora está entre os três finalistas do Brasil e o único representante da Região Norte.
O idioma é comum em aldeias indígenas de Rondônia e parte do Mato Grosso. O som anasalado das palavras é passado de geração a geração em lendas, teorias e lições. A diferença em Rondônia é que a iniciativa de professores fez com que a língua paiter suruí passasse por uma construção e normatização. Há quatro anos, apesar dos sons complicados, as palavras já podem ser lidas e escritas de forma correta.
O professor e um dos finalistas do prêmio Joaton Suruí lembra que o primeiro livro foi produzido em 2010. “O primeiro conta histórias e lendas do nosso povo. O segundo foi em 2011, que traz o calendário dos paiter e o terceiro foi lançado em 2014 que traz o corpo humano”, contou.
Dentro da aldeia Gapgir, onde moram cerca de 250 indígenas, os pequenos em idade escolar assistem aula de língua materna duas vezes por semana. Com o projeto, os indígenas conseguiram publicar três livros que são bilíngues e o quarto livro já está pré-finalizado e trará nomes de plantas e animais na linguagem paiter e português, línguas que os alunos aprendem ao mesmo tempo em sala de aula.
Flávia Suruí, de 24 anos, está cursando o 1º ano e acompanha as aulas de língua materna ministradas pelo professor Joaton. Ela conta que quando criança a primeira língua que aprendeu foi a paiter, porém a escrita não era trabalhada. “Valorizo muito as aulas que ensinam a nossa língua. Com as aulas, além de ensinar a escrita também estamos aprendendo falar de forma correta, pois tinham muitas palavras que pronunciávamos de forma incorreta”, afirmou.
O cacique Joaquim Suruí, aprovou a aplicação do projeto dentro da aldeia. Para ele a valorização da cultura, vivencia e costume do povo Suruí, precisa ser valorizado e eternizado. “Dentro da aldeia o português é ensinado como uma língua secundária, quando criança nós ensinamos a elas a nossa língua e dentro da aldeia sempre buscamos falar em Paiter. Com a normatização da escrita não iremos correr o risco da nossa forma de fala e escrita ser esquecida”, ressaltou o cacique.
Para Joaton o objetivo de ensinar os mais novos a falar e escrever de forma correta a língua paiter suruí, é uma maneira de não deixar que a cultura de um povo se perca. “A nossa escrita tem para nós o mesmo valor da escrita em português. Antes nossos indígenas sabiam apenas falar nossa língua, agora estamos com outra realidade. A nossa cultura está sendo imposta para o nosso povo e para o mundo”, disse o professor.
Os concorrentes só saberão o vencedor durante uma cerimônia que será realizada no dia 24 de novembro, em Brasília (DF). Caso ganhem, a premiação será de R$ 15 mil, o dinheiro já tem destino certo, servirá para publicação do quarto livro.
Alunos aprendem com livros da língua paiter suruí (Foto: Magda Oliveira/G1)
Alunos aprendem com livros da língua paiter suruí (Foto: Magda Oliveira/G1)

Fonte URL: http://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2014/11/projeto-em-escola-indigena-de-ro-concorre-premio-em-brasilia-df.html

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