KANINDÉ

Mulheres indígenas estão na luta pela terra e sofrem ameaças de madereiros

Maria Leonice Tupari, 39 anos, é uma das 22 multiplicadoras do projeto Voz das Mulheres Indígenas Fotos: Isabel Clavelin/ONU Mulheres
Maria Leonice Tupari, 39 anos, é uma das 22 multiplicadoras do projeto Voz das Mulheres Indígenas
Fotos: Isabel Clavelin/ONU Mulheres

No seu sobrenome, Maria Leonice Tupari carrega a sua etnicidade. Seus antepassados e antepassadas foram forçadas a migrar do Mato Grosso para Rondônia, como resultado da escravização por seringueiros. É com os olhos marejados e a voz entrecortada que Maria relembra histórias de vida marcadas pela violência num tempo que as “mulheres indígenas eram dadas” e seu povo era alvo da expropriação cultural que lhes impedia de falar a língua materna.
Aos 39 anos e mãe de quatro filhas e um filho, Maria Leonice Tupari é da Terra Indígena Rio Branco, cortada pelo Rio Branco e Rio Guaporé, do município Alta Floresta do Oeste. Num território demarcado e homologado, convive com nove povos: Arua, Makurap, Kampé, Tupari, Dihoi, Jabuti, Sakirabia, Kanoê, Arikapú. Atualmente, vive na tribo indígena Sete de Setembro, habitada pelos Paiter Suruí, no município de Cacoal. Desde junho de 2015, Leonice é uma das multiplicadoras do projeto Voz das Mulheres Indígenas, o qual tem proporcionado o fortalecimento da consciência delas sobre a sua organização política.
A vez das mulheres – “Nas conversas, vemos que as mulheres querem ocupar os espaços como os homens. Não somente fora das aldeias, mas também dentro das aldeias, seja como professoras ou na área da saúde. Elas vêm falando sobre ter os mesmos direitos do que os homens nos nossos territórios. Elas querem ser reconhecidas. Estão na luta pela terra. Elas estão enfrentando dificuldades, porque estão sendo ameaçadas por madeireiros. Isso é algo que vem acontecendo não somente na nossa região. Vejo isso como ponto comum e ocorrência em outros estados”, constata.
Leonice é casada com um indígena do povo Paiter Suruí. E é das mulheres dessa etnia que ela resgata o modo de vida. “As mulheres Suruí costumam ficar em casa e têm pouco contato com outras sociedades. São muito reservadas. Gostam de artesanato e cuidar das crianças. Elas plantam e fazem cerâmica. As jovens estão vendo que precisam participar e se envolver mais com as questões políticas, principalmente diante dos problemas que enfrentamos com o Congresso Nacional e a violação dos direitos”, diz.
Diálogos intergeracionais – Nas andanças como multiplicadora do projeto Voz das Mulheres Indígenas, Leonice se deparou com a riqueza das trocas intergeracionais. “Numa oficina, observei que a participação das mulheres idosas anima a participação das mulheres mais jovens. Elas não falam Português, mas falam entre elas. As mais velhas faziam a discussão e as jovens traduziam para as demais pessoas. Elas estão vendo esse lado, mas querem manter o seu jeito reservado”, revela Leonice a sabedoria compartilhada pelas mulheres mais velhas e o seu papel no empoderamento das mulheres indígenas jovens.
No meio das duas gerações, Leonice Tupari demonstra o desejo de que suas filhas e filho continuem a luta dos povos indígenas. “Como liderança, a gente quer que nossos filhos sigam os nossos passos na militância. Meu maior sonho é ver minhas filhas dentro do movimento, defendendo o nosso povo. Trago-as e puxo mesmo para a reunião”, pontua.
Cheia de orgulho, ela conta que a filha Márcia, de 21 anos, é secretária da organização em que milita. E abre um sorriso que emoldura o rosto, revelador de um coração leve ao falar de sua descendência que casou cedo: “Pelo menos uma coisa eu tenho garantida. Elas são casadas com indígenas. Isso nos fortalece muito. O contrário é um desandamento”, conclui.
 
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